segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O TEMPO PASSA.

Ao escrever essa coluna no dia de meu aniversário ( por coincidência o dia do advogado também ), não pude deixar de pensar em tudo a que assisti em 43 anos de vida. Minha infância transcorreu em paralelo ao Regime Militar e minha memória guarda comentários de amigos de meus pais sobre pessoas conhecidas que estavam desaparecidas. Não entendia direito tudo aquilo mas percebia que algo estava errado. Minha memória somente se torna clara a partir de 1979, justamente o ano da Lei de Anistia. De antes disso, apenas um programa de televisão, feito pelo MDB, onde ouvi Alceu Collares, Alencar Furtado e Ulysses Guimarães e que, mais tarde, soube ter provocado a cassação do segundo.

O tempo passou, entrei na adolescência, e levado por um amigo, entrei no Partidão. Como estudante achava tudo aquilo o máximo, estávamos fazendo algo para mudar o país. Chorei no dia da votação da Emenda Dante de Oliveira, ao lado de milhares de estudantes que acompanhavam a votação pelo rádio. Acompanhei diariamente o calvário de Tancredo Neves e a posse de José Sarney. Fui fiscal do Presidente durante o Plano Cruzado e fiquei indignado com o Centrão, durante a constituinte. Aplaudi a criação do PSDB da mesma forma como fiquei fascinado com a fundação do PT. O país estava mudando, pelo menos eu acreditava nisso. Aí veio Fernando Collor. Cheguei a brigar com amigos, pois apoiava Lula e me negava a acreditar no Caçador de Marajás. Isso no segundo turno, pois no primeiro votei em Mário Covas, apesar da simpatia por Roberto Freire. Desde a posse já ficava claro o que seria o governo Collor. Assisti ao vivo a votação do impeachment pela TV e acreditei em Itamar Franco. Também acreditei em Fernando Henrique e no PSDB, mesmo com a companhia indesejável da turma do PFL. Mas aí já tinha idade suficiente para desconfiar de promessas de políticos. E passei oito anos sem entender como alguém pode rasgar seu passado e se entregar ao fisiologismo e à política de baixo nível. E veio Lula e mais cinco anos e meio com a mesma dúvida do governo anterior.

Que a política é um jogo, não resta dúvida, muito menos acredito que se possa praticá-lo com vestais, mas não é preciso exagerar. Chegamos ao ponto de não distinguir mais os políticos. Sempre fui contra a generalização, mas como acreditar em algo, com a impunidade comendo solta? As eleições municipais estão chegando e até traficantes são candidatos a prefeito ou vereador, com as bênçãos do Supremo Tribunal Federal. PT e PSDB se comportam como gêmeos brigando para ver quem é o mais bonito, aliados ao que existe de mais fisiológico no cenário político brasileiro. Acordos inimagináveis são costurados com a maior cara de pau e até explicações cínicas comportam.

Pois é, 43 anos e muito pouco mudou. Certamente é muito bom poder escrever o que se sente, algo impossível durante a minha adolescência. Mas o preço da liberdade não pode ser esse que pagamos. Não precisamos suportar essa falta de vergonha como o preço por sermos uma democracia. Só lamento não enxergar algo de melhor a curto prazo. Pelo jeito, chegarei aos 50 anos indignado com o próximo governo.

Um comentário:

Eduardo Lontro disse...

Em 1º lugar parabéns, apesar do atraso. Faz aniversário no mesmo dia do meu avô Benjamin.
Como ele você é uma pessoa inconformada com a realidade social e politica, mas você é mais corajoso, e ousa divulgar publicamente,suas opiniões pessoais. Apesar da frustração de não poder evitar muitas das coisas que relata, acredite que nem que seja homeopaticamente, está ajudando a ultrapassar melhor essas etapas, e pelo menos cumpre com a sua parte. Um grande abraço.