quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

DESFAÇATEZ

Na semana anterior à natalina tivemos mais uma prova de que nossa classe política chegou no fundo do poço, quando o Senado Federal (se é que ainda merece ser chamado assim) aprovou o aumento do número de vereadores em todas as cidades do país. E a coisa só não ficou pior porque a Câmara não podia promulgar (não que eles não quisessem). Dane-se que o mundo atravessa uma crise econômica sem precedentes e que essa crise já está afetando a atividade econômica brasileira (todo mundo já percebeu que não é uma marolinha). O que importa é fazer festa com dinheiro público arrumando lugar para mais inúteis que apoiarão os ilustres parlamentares nas eleições de 2010.
Para que gastar milhões com a saúde pública, se podemos usar esse dinheiro para pagar salários para milhares de políticos medíocres que não fazem a menor idéia do que é legislar? Ou alguém pode provar que as câmaras municipais servem ao propósito de sua existência? O mais espantoso é que quase a totalidade dos senadores, situacionistas ou de oposição, votaram a favor da malandragem, sem o menor pudor, sem preocupação em pelo menos disfarçar. Foram apenas cinco votos contrários (abstenções são a clara manifestação da covardia e desonestidade moral de quem se omite).
E somando-se aos escândalos seguidos do Poder Executivo, a malandragem e desonestidade do Poder Legislativo, o Poder Judiciário vai se juntando à festa. Como se não bastassem os problemas crônicos de um sistema processual arcaico e formalista e de uma estrutura administrativa feudal, a incompetência tomou conta dos espaços ainda não ocupados pela corrupção. Os competentes e honestos vão ficando ilhados e, pior, desmotivados.
No escândalo do TRT de São Paulo, ninguém se perguntou como um único juiz administrava sozinho uma obra daquele porte. O resultado das investigações foi de uma inacreditável ingenuidade ao atribuir toda a responsabilidade ao juiz Nicolau, ou seja, todos os outros juízes do TRT de São Paulo nunca se importaram com o volume de dinheiro gasto ou com os atrasos na obra e nem deviam fazer isso, segundo os investigadores.
Os acontecimentos recentes no Tribunal de Justiça do Espírito Santo mostram claramente a ausência de temor da punição. Mesmo diante da possibilidade de grampo telefônico, os desembargadores envolvidos continuaram a tratar de negócios pelo telefone, usando até mesmo de ironia. É óbvio que têm certeza de que nada lhes acontecerá.
Em São Paulo, um juiz tem diante de si um processo movido por um banco agenciador do BNDES em que as provas de negociata e crime são claras. Mas ao invés de determinar a investigação dos fatos, defere tudo que o banco requer, por mais absurdo que seja. Para a liberação de R$ 4 milhões de financiamento, um empreendimento foi avaliado em R$ 12 milhões, pelo próprio banco agente do BNDES. O dinheiro jamais foi usado na obra, pois serviu apenas para pagar o financiamento original feito pelo próprio banco.
Pois ao executar os verdadeiros donos do empreendimento, o banco considerou que o empreendimento que ele mesmo avaliou em três vezes o valor da dívida era insuficiente e pediu a penhora de outros bens dos administradores. E o ilustre magistrado deferiu. E apesar de representações feitas pelos administradores ao BNDES, Banco Central e Ministério Público Federal, nada ocorreu, mesmo com o envolvimento de um dos investigados numa das operações da Polícia Federal que atingiu vários prefeitos.
Há alguns dias, novamente um banco conseguiu uma liminar no Superior Tribunal de Justiça para suspender o levantamento de uma condenação deferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, conseguindo efeito suspensivo em recurso especial de ação rescisória que nem havia sido protocolada! Coisa julgada nada, o que importa é beneficiar quem pode mais.
Os três poderes da República sempre tiveram sérios problemas. A corrupção sempre existiu. Mas agora nem se preocupam em disfarçar. Dane-se a mulher de César.
GOSTAR DO QUE SE FAZ
Desde a última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), vários articulistas vêm questionando a posição de Lula, pois o nosso Pequeno Timoneiro afirmou seguidas vezes que os juros deveriam cair. Presumindo-se que o presidente da República é a mais alta autoridade política, militar e econômica da nação, todo mundo acreditou que o presidente do Banco Central iria obedecer ao chefe. Mas não foi o que aconteceu. E a conseqüência disso? Nada.
O que mais chama a atenção na reação da imprensa é a falta de memória e uma espécie de ausência de observação nos acontecimentos políticos dos últimos seis anos. Desde o início de 2003 Lula deixou bem claro que não gostava de governar. Para ele, o mais importante era o papel de chefe de Estado, que inclui viagens internacionais, discursos na ONU e em uma infinidade de encontros políticos, divulgar projetos mirabolantes e chamar a atenção publicamente daqueles que não tornam suas promessas realidade.
Primeiro, o papel de chefe de governo era dividido entre José Dirceu e Gushiken. Com a queda de ambos, o papel passou a ser exercido por Pallocci. Lembremos que na queda dos dois primeiros, Lula afirmou não saber o que faziam, o que já deixava claro que não gostava de saber das coisas do governo. Quando Pallocci caiu, Lula se viu em um mato sem cachorro, pois havia perdido o chamado "núcleo duro" de seu governo. Mas aí apareceu Dilma, segundo Sarney, a "sacerdotisa do poder público" (ninguém conseguiu entender o que ele quis dizer com isso, mas tudo bem).
O problema é que a ministra não gosta de política. Odeia discursos e não tem paciência com a imprensa, muito menos com os políticos, se bem que com esses até o povo está sem paciência. Estaria tudo bem, já que Lula adora discursos, viagens, imprensa e políticos (de preferência estrangeiros, mas os nacionais também servem, desde que seja em um churrasco), mas nosso diminuto líder resolveu escolher sua primeira-ministra como a eventual sucessora nas próximas eleições. E eleições envolvem tudo aquilo que Dilma não se sente a vontade quando faz.
Mas Lula gosta tanto de discursos que faz por ela e gosta tanto de viagens que viaja com a ministra mesmo que ela permaneça calada a maior parte do tempo. O importante não é transformar Dilma em um fenômeno eleitoral, mas conceder a ela cacife político para fazer o que ele não gosta: governar.
É aí que entra Meireles. O presidente do Banco Central tem cuidado da política econômica do governo sem muitos problemas, a não ser o PT (paradoxalmente o partido do presidente da República!). Mas apesar da gritaria do partido de seu chefe, faz o que bem entende na condução da política econômica, principalmente após a saída de Pallocci, pois com Mantega seu trabalho ficou muito mais fácil.
Não tendo ninguém capaz de dividir o comando, o presidente do BC cuida da política cambial, dos juros, da emissão de moeda e acaba determinando o que os outros ministros podem ou não fazer. Com isso, mesmo com Lula chamando a crise de marolinha, afirmando que estamos blindados e aconselhando Obama sobre como governar, o país segue enfrentando a crise como pode. O conservadorismo de Meireles pode ser criticado, mas é preciso que se reconheça que seria mais fácil agradar o chefe do que deixá-lo amuado.
Mas o presidente do Banco Central sabe que a chateação do chefe não tem conseqüência nenhuma, pois sem Meireles no comando e com Mantega e Dilma lhe assessorando, Lula não desfrutaria de 70% de aprovação por parte da patuléia. E para um chefe de Estado é isso que importa. Para governar é melhor manter o zelador.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

POPULARIDADE INTRANSFERÍVEL

A pesquisa Data Folha divulgada nesta segunda-feira, com José Serra isolado numa liderança parecida com a de Lula antes das eleições de 2002, mostra que a popularidade única alcançada por nosso Pequeno Timoneiro não transfere votos para sua escolhida ( ou seus escolhidos até lá ). Tanto Dilma ( se a escolha for caseira ) como Ciro Gomes ( se a escolha for conveniente ) não são páreo para o governador paulista. Nem mesmo Aécio pode fazer frente, até o momento, à liderança de Serra ( o próprio Aécio coloca a liderança nas pesquisas como determinante para a escolha do candidato tucano ).

Com a recente divulgação de pesquisa do mesmo instituto atribuindo a Lula um grau de aprovação fantástico ( sem ser surpreendente ) o resultado da pesquisa eleitoral poderia provocar nos incautos a dúvida sobre a relação entre ambas. Isso é um tremendo equívoco, pois a popularidade de Lula não contamina seu governo como um todo. Aprovar Lula não é o mesmo que aprovar o Governo Lula ou o PT. Detentor de um carisma ímpar, Lula não precisa demonstrar capacidade de governar ( que não tem ), nem mesmo qualidade nas escolhas para nomeações. O Presidente tem o dom de conquistar as platéias, principalmente os excluídos, a massa eleitoral que não lê jornal nem tem o menor conhecimento da crise ou dos escândalos ocorridos nos últimos 6 anos.

É justamente aí que a coisa complica. Esse público não transfere afeição nem admiração. Para eles, Lula é Lula, Dilma não é ninguém. Não querem saber quem é a mãe do PAC, te porque nem imaginam o que é o PAC. Se Dilma fosse a mãe do Bolsa-Família ainda teria uma chance, mas de um programa cheio de buracos e propaganda enganosa, fica difícil votar na ministra preferida de Lula. O problema de líderes como nosso presidente, é que seu carisma é pessoal e intransferível. Seus auxiliares não empolgam, até porque Lula não escolhe líderes, muito menos gente capaz de empolgar, seja pela competência ou pelo dom de se comunicar. Ciro Gomes foi um exemplo de liderança que se submeteu à imagem de Lula. Enquanto ministro, Ciro ficou fora dos holofotes por 4 anos. Como Deputado vem tentando voltar à mídia, mas quando isso ocorre é para defender o carinho devotado por seu irmão à sua esposa e sua sogra.

Quanto às outras opções petistas, o próprio partido sabe que não tem condições de roncar grosso. Tarso Genro vem destruindo sua própria biografia desde que assumiu a pasta da justiça. Patrus Ananias não deslancha nem em Minas Gerais. José Dirceu e Palocci trabalham nas sombras e preferem continuar a ser eminências pardas, enquanto Marta e Mercadante são sinônimos de fracasso. Na base aliada, os nomes que aparecem no PMDB servem muito mais para valorizar o passe do partido ( se é que o PMDB ainda é um partido ), que na hora H vai apoiar quem der mais.

Pelo menos por enquanto, Serra só tem um adversário, o PSDB. Seu partido sempre sofreu por ter caciques demais, sucumbindo à vaidade de seus líderes. Não seria espantoso que Lula e Serra se aproximassem, realizando o que hoje parece impossível, reunindo dois partidos semelhantes, com bons nomes e boas propostas. Essa reunião seria imbatível, mesmo sem o apoio fisiológico do PMDB. Mas os dois também tem um defeito que os torna mais semelhantes ainda e que é o verdadeiro obstáculo à sua realização: a vaidade de suas lideranças. Seriam candidatos demais para poucos cargos.
EQUÍVOCOS DE PARTE A PARTE.

Em artigo publicado na sexta-feira no jornal Folha de São Paulo, o Coronel da Reserva e ex-Ministro Jarbas Passarinho, que também foi Governador do Pará e Senador da República, se manifestou sobre o revanchismo de Tarso Genro e sua turma em relação aos torturadores do Regime Militar. Juridicamente o Coronel tem suas razões, ideologicamente também. Mas historicamente existem equívocos que por sinal também ocorrem do outro lado.

Em um determinado trecho de seu artigo, Jarbas Passarinho define os benefícios excepcionais que os anistiados que foram vítimas de tortura ou perseguição política, tem direito a receber do Estado. O ex-Ministro da Ditadura e um dos artífices do AI-5 ( autor da célebre frase “às favas com os escrúpulos”, atribuindo à FHC o pagamento das indenizações aos “vencidos”, comete um erro histórico. A indenização foi concedida pelo artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988. A lei promulgada por Fernando Henrique veio apenas corrigir distorções decorrentes de interpretações equivocadas da norma constitucional. Utiliza em seu artigo a expressão de Quincas Borba “aos vencedores as batatas”, considerando que houve a inversão da frase, pois as batatas teriam sido distribuídas aos vencidos. Por acaso houve alguma guerra civil no Brasil em 1964 para que existam vencidos e vencedores? Um golpe de estado articulado por interesses privados e financiado por banqueiros conduz a alguma vitória? Esqueceu-se o ilustre militar da reserva que as batatas colhidas pelos supostos vencedores foram muito mais apetitosas que aquelas que hoje são distribuídas aos “vencidos”. Generais que construíram chácaras ao redor de Brasília com material do Exército, a roubalheira ocorrida durante as obras do Brasil Gigante e do Milagre Econômico de Delfim Neto, tudo isso resultou em muito mais do que batatas para os vencedores. Injusta e incorreta a afirmação do ex-Ministro.

Mas a afirmação mais infeliz é certamente o momento em que Jarbas Passarinho tenta justificar a tortura praticada nas delegacias e quartéis, em relação à violência da guerrilha e do terrorismo. Primeiro, esclareça-se que pequena parte dos indenizados é formada por membros das organizações paramilitares de esquerda. A grande maioria é formada por pessoas que foram demitidas de estatais ou da administração federal apenas por exercerem atividade sindical ou por manifestarem em algum momento discordância do regime imposto pelos “vencedores” e isso inclui centenas de militares devotados à democracia e que se ergueram contra o golpe da caserna oportunista, que também foram beneficiados pela anistia, caso do falecido ex-capitão da aeronáutica Sergio Macaco, preso e exonerado por ter se recusado a cumprir a ordem de assassinato de presos políticos, dada por seu superior, o Brigadeiro Burnier. O maior equívoco de Jarbas Passarinho é justificar a delinqüência estatal, seja qual for a razão, injustificável. Sob a alegação de defesa da ordem, as Forças Armadas e a Polícia praticaram crimes e perpetraram barbaridades, quase sempre contra inocentes. Ou será que o ilustre ex-Ministro de Fernando Collor considera que Wladimir Herzog era terrorista? Aparentemente o ex-Ministro da Justiça jogou seus escrúpulos às favas quando da edição do AI-5 e jamais encontrou-os novamente. As palavras do Coronel justificam a tortura policial, bastando que a suspeita seja relacionada a um crime hediondo. Jarbas Passarinho termina seu artigo com a seguinte frase: “Perto de 30 anos passados, o esquecimento é unilateral”.
Tarso Genro pode ter escolhido uma hora infeliz para tocar no assunto, mas o ex-Ministro dos militares esqueceu-se que quem bate sempre esquece. Quem apanha, jamais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DESCULPAS ESFARRAPADAS

As Olimpíadas terminaram e o todo poderoso presidente do COB, Carlos Nuzman, repetiu todas as desculpas previsíveis para o desempenho pífio do país em Pequim. Todas as medalhas, exceto as do vôlei ( as duas ) e a do futebol feminino, foram obtidas através do esforço pessoal e não do trabalho do COB. Excetuei as duas modalidades coletivas, pois existe um trabalho de base muito bem feito em ambas, que nada tem a ver com o trabalho de nossos cartolas, mas de um planejamento empresarial muito bem feito há mais de uma década, principalmente no caso do vôlei. Nossa equipe de ginástica, por exemplo, não tem desculpas para um mal resultado, pois é uma das raras modalidades com infra-estrutura e verba suficientes, além de staff técnico estrangeiro contratado especialmente para essas competições.

Como explicar que a terceira maior delegação dos Jogos Olímpicos tenha um resultado tão magro, principalmente comparado com 20 das 22 colocadas à nossa frente? Dinheiro não faltou, o problema foi a sua forma de utilização. Ao invés de priorizar o esporte como política educacional e social, o COB investiu apenas no que poderia gerar visibilidade. Não adianta colocar apenas dinheiro nas mãos de cartolas despreparados e mal-intencionados, que pretendem apenas se fazer. Até mesmo a existência do Ministério dos Esportes é um absurdo, quando se pensa no esporte como parte integrante de uma política educacional e de integração social. De que vale investir milhões em atletas de nível médio e eliminar a educação física do currículo obrigatório? Qual a universidade pública ou privada que tem uma política desportiva atrelada ao conteúdo educacional? Podemos encontrar exceções como a Gama Filho do Rio ou a Santa Cecília de Santos, mas é muito pouco se comparado ao número de instituições de ensino superior no país.

De resto, a política desportiva no Brasil é tocada com a mesma incompetência da educação. Criam-se cotas para tapar a cratera do ensino fundamental e médio medíocres. Qual foi o legado dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro? Onde estão as gerações de novos atletas que teríamos? Milhões transformados em fumaça sem que nada tenha sido feito para durar, mas apenas para rechear a carteira dos envolvidos. Se superfaturaram no Pan, imaginem nas Olimpíadas! Mas de resto continuamos a ser campeões imbatíveis na cara de pau, na falta de vergonha e principalmente nas desculpas esfarrapadas. Até mesmo discussão qualitativa sobre a campanha olímpica estamos sendo obrigados a ouvir. Nenhuma mudança à vista, rios de dinheiro indo pelo ralo e continuamos como focas, aplaudindo a sardinha nossa de cada dia.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A VOLTA DO DRAGÃO.

O dragão da inflação parece doido para voltar e a responsabilidade disso é exclusivamente de uma política irresponsável promovida desde a administração FHC até os dias de hoje. Parece aos nossos governantes que política monetária se faz com alta de juros suficientes para conter a ânsia consumista de um povo que não sabe poupar. E isso é verdade, mas qual será a razão de países com políticas monetárias de incentivo ao consumo conseguirem lidar melhor com a ameaça inflacionária do que nós? Simples, eles controlam os gastos públicos e nós fazemos o contrário.

É muito fácil colocar a culpa nos carnês das Casas Bahia do que assumir que distribuir emprego para a companheirada tem um alto custo social. Ao recusar-se a enxugar a máquina pública o governo aumenta sua necessidade de financiamento e passa a pagar juros exorbitantes no mercado. Se ao invés disso houvesse a real preocupação em diminuir os gastos, a necessidade de financiamento público diminuiria e poderia ajudar a reduzir a carga tributária, além de reduzir os valores astronômicos de juros pagos ao mercado financeiro.

A falta de lógica em um Ministério que não cabe na sala de reuniões do Palácio do Planalto e na ampla e generalizada distribuição e criação de cargos novos de livre nomeação, evidencia a falta de vontade em realizar uma profunda mudança de mentalidade administrativa. Para um governo que transforma a Secretaria de Pesca em Ministério, criando cargos comissionados a rodo, sem qualquer relação disso com a solução dos problemas do setor, deixa claro que economizar não é a meta desse e de nenhum governo. Afinal, como alimentar a fome do PMDB e do próprio PT?

Para que economizar se a população não reage diante de uma carga tributária imoral? Para que moralizar a administração pública se não existe fiscalização e os outros dois poderes também adoram gastar mais do que podem? Informatização e automatização de serviços públicos nem passam pela cabeça de nossos governantes, exceto quando serve para aumentar a arrecadação. Se na iniciativa privada a palavra de ordem é reduzir os graus hierárquicos, enxugando a cadeia de comando tornando-a mais ágil, no serviço público a palavra de ordem é o contrário. Isso sem falar na irrelevância do quesito competência.

E a ameaça da inflação começa a gerar os primeiros sinais de problemas a vista, como as prestações dos contratos habitacionais. E isso serve para desmascarar a pretensa preocupação social de um Governo demagogo, pois quem paga prestação de casa própria a perder de vista não é a elite.

Mas tudo isso não importa, pois enquanto a popularidade do nosso Pequeno Timoneiro estiver acima de 50%, nada vai mudar.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O TEMPO PASSA.

Ao escrever essa coluna no dia de meu aniversário ( por coincidência o dia do advogado também ), não pude deixar de pensar em tudo a que assisti em 43 anos de vida. Minha infância transcorreu em paralelo ao Regime Militar e minha memória guarda comentários de amigos de meus pais sobre pessoas conhecidas que estavam desaparecidas. Não entendia direito tudo aquilo mas percebia que algo estava errado. Minha memória somente se torna clara a partir de 1979, justamente o ano da Lei de Anistia. De antes disso, apenas um programa de televisão, feito pelo MDB, onde ouvi Alceu Collares, Alencar Furtado e Ulysses Guimarães e que, mais tarde, soube ter provocado a cassação do segundo.

O tempo passou, entrei na adolescência, e levado por um amigo, entrei no Partidão. Como estudante achava tudo aquilo o máximo, estávamos fazendo algo para mudar o país. Chorei no dia da votação da Emenda Dante de Oliveira, ao lado de milhares de estudantes que acompanhavam a votação pelo rádio. Acompanhei diariamente o calvário de Tancredo Neves e a posse de José Sarney. Fui fiscal do Presidente durante o Plano Cruzado e fiquei indignado com o Centrão, durante a constituinte. Aplaudi a criação do PSDB da mesma forma como fiquei fascinado com a fundação do PT. O país estava mudando, pelo menos eu acreditava nisso. Aí veio Fernando Collor. Cheguei a brigar com amigos, pois apoiava Lula e me negava a acreditar no Caçador de Marajás. Isso no segundo turno, pois no primeiro votei em Mário Covas, apesar da simpatia por Roberto Freire. Desde a posse já ficava claro o que seria o governo Collor. Assisti ao vivo a votação do impeachment pela TV e acreditei em Itamar Franco. Também acreditei em Fernando Henrique e no PSDB, mesmo com a companhia indesejável da turma do PFL. Mas aí já tinha idade suficiente para desconfiar de promessas de políticos. E passei oito anos sem entender como alguém pode rasgar seu passado e se entregar ao fisiologismo e à política de baixo nível. E veio Lula e mais cinco anos e meio com a mesma dúvida do governo anterior.

Que a política é um jogo, não resta dúvida, muito menos acredito que se possa praticá-lo com vestais, mas não é preciso exagerar. Chegamos ao ponto de não distinguir mais os políticos. Sempre fui contra a generalização, mas como acreditar em algo, com a impunidade comendo solta? As eleições municipais estão chegando e até traficantes são candidatos a prefeito ou vereador, com as bênçãos do Supremo Tribunal Federal. PT e PSDB se comportam como gêmeos brigando para ver quem é o mais bonito, aliados ao que existe de mais fisiológico no cenário político brasileiro. Acordos inimagináveis são costurados com a maior cara de pau e até explicações cínicas comportam.

Pois é, 43 anos e muito pouco mudou. Certamente é muito bom poder escrever o que se sente, algo impossível durante a minha adolescência. Mas o preço da liberdade não pode ser esse que pagamos. Não precisamos suportar essa falta de vergonha como o preço por sermos uma democracia. Só lamento não enxergar algo de melhor a curto prazo. Pelo jeito, chegarei aos 50 anos indignado com o próximo governo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

GERAÇÃO DE EMPREGOS.

Nosso Pequeno Timoneiro realmente acredita que a solução para os problemas administrativos é a criação de ministérios e cargos. Os portos tem problemas? Cria-se uma secretaria com status de ministério e está resolvido o problema que o Ministério dos Transportes nunca resolveu e, além disso, ganha-se mais alguns cargos comissionados para os aliados. A Secretaria Especial da Pesca não conseguiu aumentar a produção pesqueira em nem um grama? Vamos transformá-la em Ministério, com direito a um orçamento maior e mais duas centenas de cargos comissionados. Pode não resolver o problema da pesca, mas vai diminuir o desemprego entre a companheirada.

E assim a popularidade de Lula, medida pela aprovação de 55% da população, segundo o Instituto Data Folha, continua surfando na onda alheia. Realmente as vagas de emprego aumentam, mas acabam provocando o mesmo problema do crescimento econômico. Se a economia crescer um pouco a mais, teremos racionamento de energia, exatamente aquilo que Dilma disse que não iria acontecer, por isso o Governo não se preocupa com os índices haitianos de crescimento econômico. As vagas de emprego para mão de obra não-especializada não crescem tanto quanto aquelas de nível técnico e aí reside o problema. Por não termos investido em infra-estrutura por décadas, nossos jovens fugiram das faculdade de engenharia, deixando as vagas para aqueles que tinham muito pouco preparo. O exemplo do que vem acontecendo no litoral sul do Rio de Janeiro é uma mostra do que temos pela frente. Com a construção de uma siderúrgica por parte de um grupo alemão, com terminal portuário próprio, nas proximidades de Sepetiba, as vagas técnicas, aproximadamente 3.000, não conseguiram ser preenchidas. O grupo pretendia trazer engenheiros chineses, mas foi impedido pelos sindicatos, que permitiu apenas a entrada de aproximadamente 600. Note-se que os estrangeiros não iriam tomar o lugar de brasileiros, pois não haviam tupiniquins qualificados para as vagas. Hoje temos engenheiros, médicos e advogados incapazes de preencherem corretamente um relatório. A falta de investimento em educação nos joga num buraco sem fundo e sem perspectiva de futuro. Não adianta criar um Ministério da Pesca se não investimos em pessoal técnico de pesquisa na área. Não adianta criar uma Secretaria de Portos, e só nomear compadres para cargos técnicos. Muito menos politizar a Embrapa vai fazer nossa agricultura se tornar mais competitiva.

Já que Lula gosta tanto de viajar, bem que podia fazer uma visita à Irlanda e perguntar como eles fizeram a revolução educacional deles. Pelo menos essa viagem valeria a pena.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O PETISMO E A CRÍTICA.

Logo após a publicação de meu artigo “Lula e o Mundo”, recebi e-mail de um leitor que dizia o seguinte: “Quanta asneira, desinformação e manipulação de notas. O senhor acha que se o cenário real fosse esse pintado por suas palavras a aprovação do Presidente estaria na casa dos 70%?”. É curioso como a crítica é recebida pelo petismo e seus seguidores. É ótimo para o articulista ter retorno de seus artigos, sejam eles positivos ou negativos. Mas o petismo, desde sua fundação, tem como base de sua existência acreditar que são os donos da verdade e proprietários da ética, não havendo direito algum de crítica àqueles que não comungam da estrela vermelha. Um estilo stalinista de ser, digamos assim.

Realmente a aprovação de Lula é impressionante, quando analisada apenas do ponto de vista percentual. Mas se as notas e dados de meu artigo não são falsos, mas apenas reprodução de jornais como Gazeta e Monitor Mercantil, revistas como Veja, Época e até mesmo Carta Capital, como pode ser explicada a popularidade do Presidente? Para encontrar a resposta é preciso gastar pelo menos 3 minutos para pensar, coisa rara para o lulo-petismo. Os resultados da Petrobrás, o aumento da carga tributária, os escândalos da compra de votos e do fisiologismo na administração interessam a quem? Somos aproximadamente 180 milhões. A circulação total das revistas semanais não passa da casa de 2,5 milhões, assim como a audiência de programas de debates e de cunho jornalístico é infinitamente inferior a das novelas e seriados.

Se fizermos o cálculo do que representam 70% da população brasileira chegamos a 126 milhões de “cidadãos”. O Bolsa-Família atende cerca de 40 milhões de pessoas, incluídas aí todas aquelas ligadas às famílias beneficiárias ( dados do próprio governo federal ). Essa conta é feita com base no número de famílias credenciadas e portadoras dos cartões do programa oficial. Vemos assim, que uma boa parte da popularidade do Presidente é fácil de explicar. Já cansei de dizer que não sou contra a idéia do Bolsa-Família, mas de sua concepção assistencialista que o torna eleitoreiro, já que perpetua a condição de dependência de quem o recebe. Além disso, ocorre com Lula o mesmo que ocorria com FHC, o chamado “efeito teflon”, pois nada gruda no Presidente. As frases “não sabia de nada” ou “fui traído” serviram de desculpa para tudo.

A popularidade de um governante não traduz necessariamente sua qualidade, eis que Severino Cavalcante é o primeiro nas pesquisas de sua cidade natal. Tenho certeza de que o leitor que enviou o e-mail não defenderia Severino. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno, em um desempenho muito melhor do que Lula em sua reeleição e isso não traduzia os problemas daquele governo, por sinal muito parecidos com os atuais: manipulação de números, política econômica ortodoxa, resultados pífios no comércio exterior, fisiologismo eleitoral e administrativo.

É preciso que se entenda que criticar o atual governo, da mesma forma como se criticava o anterior, está bem longe da dicotomia “bem ou mal”. Não é possível que o leitor ache natural uma aliança política entre Lula e Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho e o próprio Severino Cavalcante. O cenário real da economia brasileira é exatamente aquele e muito mais. A incompetência da área técnica do governo não é denunciada por mim, mas o motivo de irritação constante de Lula, que não consegue tornar realidade seus discursos. É preciso mudar os rumos políticos e administrativos desse país e pouco importa quem esteja no poder.

Espero continuar a receber mais mensagens de leitores e as agradeço sempre, pois são uma chance de aprendizado e crescimento constante, coisa que nossos governantes deveriam aprender a fazer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Entrevista Jornal Vicentino


Simpático, o advogado Roberto Mohamed Amin Junior recebeu a equipe do Jornal Vicentino em um dos seus quatro escritórios de advocacia, em Santos. Formado pela Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Direito Empresarial e mestrando em Direito, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Roberto falou um pouco sobre sua vida, carreira e conquistas. Leia a entrevista a seguir.
Ele é um dos mais conceituados advogados da Baixada Santista e também um colecionador de miniaturas. Predestinado, Mohamed tem uma extensa bagagem profissional, já participou de congressos e seminário no Brasil, Argentina e Holanda e é membro da Academia Brasileira de Direito Tributário.A comunicação também é uma de suas paixões. Atualmente ele assina a coluna semanal “Política e Conversa” do Jornal Monitor Mercantil do Rio de Janeiro e é comentarista político do telejornal Opinião da TV Record Litoral. Considerado muitas vezes polêmico, o advogado tem opiniões fortes e costuma expor de forma clara e direta seus pensamentos. Durante entrevista ao JV, Mohamed contou sua trajetória, revelou momentos difíceis e ressaltou alguns episódios de sua vida. Confira na íntegra a matéria.
Jornal Vicentino - O senhor nasceu em Santos. Onde ?
Roberto Mohamed - Nasci na Casa de Saúde. Morei na Encruzilhada muitos anos. Eu nasci e morei até os 14 anos na Avenida Conselheiro Nébias. Dos 17 até casar morei no Embaré. Tenho dois irmãos. Sou um santista apaixonado pela Cidade. Torço por Santos, tenho escritórios em São Paulo, no Rio e em Brasília e nunca pensei em sair daqui. A minha vida é muito mais intensa em São Paulo, mas sair de Santos nunca.
JV - O senhor tem descendência libanesa. Teve alguma influência em sua infância ? Como era esse tempo ?
Roberto - Não. Por parte de mãe, meus bisavós eram portugueses e de pai meu avô era libanês e minha avó filha de sírios. Eu não cheguei a ter nenhuma influência, não fomos criados dentro de preceitos religiosos ou coisa do tipo. Fui criado em uma época em que se podia brincar na rua. Joguei taco, futebol na rua, quebrei todos os ossos possíveis. Tive uma infância bem vivida. Tenho ótimas lembranças do colégio. Ao mesmo tempo que eu era um bom aluno eu não gostava de sentar na frente, nem de andar com os “CDFs”. Como eu compensava nas provas, minhas notas de comportamento eram péssimas. Mas fui presidente do Centro Cívico, no Colégio Santista.
JV - Onde o senhor estudou desde sua infância ?
Roberto - Fiz o pré-primário no Sesc, quando ainda tinha, o primário no Docas e depois fui para o Colégio Santista. Primeiro eu fiz Jornalismo, mas abandonei no segundo ano de faculdade.
JV - Por que desistiu do jornalismo ?
Roberto - Desisti em 1985 e em 1989 fui fazer Direito. Uma série de coisas na minha vida aconteceram na época e eu me desencantei um pouco. Da minha turma tenho contato com eles até hoje. Na TV Mar encontro colegas de turma como Carlos Lopes, a Rosana Cerqueira, que hoje está na GloboNews, a Rosana Major que está na Prefeitura, éramos da mesma classe de jornalismo.
JV - A que o senhor se dedicou no intervalo entre uma faculdade e outra ?
Roberto - Não estudava nesse período. Trabalhei primeiro na Embratel, depois fui trabalhar no Banespa como concursado e 1977 no Fórum. Fiquei no fórum até 1989 e passei em um concurso da Justiça Federal onde fiquei até 1995. Depois comecei a advogar.
JV - O trabalho no Fórum foi o responsável pela escolha profissional ?
Roberto - Sim, foi a influência disso e também da minha ex-esposa. Eu casei e eu estava no segundo ano da faculdade, ela foi minha grande incentivadora. Me formei na Unisantos.
JV - E como foi sua trajetória depois de formado ?
Roberto - Eu sai da Justiça Federal e fui advogar para sindicatos. O primeiro foi o Sindaport. Essa era uma área que eu conhecia. O mercado era aparentemente saturado, apesar de eu discordar dessa afirmação porque sempre tem lugar para quem é bom, mas aquele foi um momento delicado da minha vida. Isso porque no início da advocacia decidi jogar tudo para o alto: cargo público, casamento, tudo, e comecei do zero. Tive muita sorte, mas também tive condições de manter as portas abertas. Em 1995 tive um momento em que não tinha dinheiro nem para pegar ônibus. Prometi então para mim mesmo que isso não aconteceria mais. Aí acho que minha estrela brilhou, comecei em um escritório pequeno na Marcílio Dias.
JV - Em qual momento o senhor sentiu que sua vida iria mudar ? A que atribui isso ?
Roberto - Foi quando eu decidi que precisava acreditar em mim, sem ficar acomodado esperando as coisas caírem do céu. Na hora que eu decidi não ficar na calçada chorando, as coisas começaram a acontecer. Daí montei meu primeiro escritório na Marcílio Dias. Era uma sala muito pequena. Trabalhava sozinho no começo.
JV - E como foi esse início ?
Roberto - Foi difícil porque eu tinha que fazer de tudo. Éramos eu e uma estagiária. Com mais ou menos seis meses de escritório aberto entrou outra estagiária que depois virou minha sócia, aliás é até hoje. O escritório tem 11 anos e meio e ela está comigo há 11. Depois entrou mais uma estagiária que também se tornou sócia. Assim que elas se formaram, nada mais justo, que agregá-las. Foi aí que nasceu o escritório como pessoa jurídica, isso foi em 1998.
JV - O senhor escolheu o Direito Tributário. Porque?
Roberto - Primeiro porque eu conhecia bem essa área. Eu tinha duas opções na época: fazer o arroz e feijão, como todo mundo, ou ia para uma área que eu conhecia. Como já tinha trabalhado na federal como contador judicial, fui para o caminho mais óbvio. Na época tinham poucos advogados previdenciários, pouca concorrência. Hoje Santos tem muitos advogados nessa área. Escolhi também a área tributária pessoa física.
JV - Hoje são quatro escritórios no Brasil, em Santos, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Como é conciliar tudo ?
Roberto - Eu não tenho medo de coisa nova. Tem muita gente querendo ir para São Paulo e pensando que a cidade vai “te engolir”, quando eu cheguei lá (SP) da mesma forma como aqui, também tinha gente ruim e havia espaço para quem fosse bom. Hoje o escritório de São Paulo é maior que o de Santos. O de Brasília é mais operacional. Como eu atendo no Brasil inteiro e o réu normalmente é a união estatal ou estatal, aí eu distribuo em Brasília.
JV - O senhor chegou a cursar dois anos de Jornalismo. Apesar de não concluir o curso, o senhor sempre está em meio à comunicação. Ficou a vontade de se tornar jornalista ?
Roberto - Eu sempre fiz algumas coisas. Na TV Santa Cecília sempre me convidavam para participar do Caderno do Porto. Um dia, por acaso, me convidaram para ir na TV Mar para falar sobre previdência privada. Sem eu saber havia um telespectador especial no dia. Era o Gastone Righi. Me chamaram depois na semana seguinte e fiquei sabendo que tinha sido porque o Gastoni estava naquele dia. Nunca mais sai, estou lá como comentarista há seis anos. Eu tive também um programa de rádio durante um ano na Hits FM, o Painel, que eu apresentava com o Douglas Gonçalves. Foi um programa que fez história, porque era tipo uma conversa de bar, onde falávamos sobre tudo. Eu adoro rádio. Hoje estou na CBN Litoral, das 9 às 11 da manhã. É um jornal de debates, com teor também político e lembra um pouco o Painel.
JV - O programa de rádio Painel foi uma realização para o senhor. Porque ?
Roberto - O Painel era um programa totalmente informal, sem censura e sem linguagem definida. Começávamos falando de política, terminávamos falando de Beatles. Levamos pessoas importantes, como Geraldo Alckmin e todas as pessoas que eram formadoras de opinião na Região participaram do programa pelo menos uma vez. Lembro que uma vez eu estava no aeroporto em Congonhas e encontrei a ex-senadora Heloisa Helena. Já tínhamos entrevistado ela duas vezes pelo telefone. E a mágica do rádio é essa, porque você consegue entrevistar uma pessoa em qualquer lugar. E quando eu fui falar com ela e me apresentei ela disse: “Painel aquele programa de Santos ?”, me abraçou e conversou comigo. Isso foi muito legal, porque a gente primava até pela qualidade das perguntas que fazíamos para os entrevistados. Acho que nosso programa era inovador pelo formato aberto. Não seguíamos pauta, falávamos o que queríamos. Meu sonho é o Painel voltar. O problema é encontrar uma rádio onde a gente possa ter a mesma liberdade. Nesse ponto eu só tenho a agradecer a Hits FM, porque ficamos durante um ano sem censura nenhuma. Acabei saindo por fofocas, por um comentário que tomou uma proporção maior.
JV - O senhor é comentarista político. Nunca pensou em seguir carreira pública ?
Roberto - Essa mosquinha não me mordeu. Eu faço política como comentarista. Ser político não. Eu prefiro jogar pedra.
JV - Como o senhor vê o cenário político atual na Região ?
Roberto - Está sem graça, monótono. Acho que Cubatão é a única cidade que reserva surpresa nas próximas eleições, porque revelou a Márcia Rosa, que para mim é uma mulher equilibrada, inteligente, culta e que conhece a cidade.
JV - As miniaturas têm um lugar especial no seu escritório. O senhor é colecionador ?
Roberto - Faço coleção sim. Tenho um lado um pouco infantil nesse ponto. Sou fascinado por aviões e por seriados de ficção científica. Não está completa ainda porque tenho muita coisa em São Paulo. Desde criança gosto disso. Sou colecionador de CDs também. Tenho cerca de 2.500 e DVDs 1.500. Tenho todo o tipo de seriado que se possa imaginar, até Ultramen. Tenho todos os seriados que passaram na Record e assisto de vez em quando. É natural que eu tenha essas miniaturas, que não são brinquedos, são coisas que me dão prazer de montar, além da paciência. Tenho tudo aqui eu monto alguns.

terça-feira, 22 de julho de 2008

LULA E O MUNDO.

A capa da Revista Veja dessa semana é sintomática e leva a refletir sobre algo que venho ( eu e mais uma centena de articulistas ) escrevendo há meses. Durante todo o primeiro mandato, o governo de nosso Pequeno Timoneiro não enfrentou nenhuma crise internacional, nem econômica nem política, o que proporcionou um crescimento inercial do PIB, pífio mas ainda assim maior do que segundo mandato de FHC. Uma política econômica ortodoxa e pouco inteligente manteve a estratégia governamental nos mesmos moldes do antecessor, motivando críticas que eram caladas com os pequenos mas reais resultados.

No segundo mandato de nosso Mao Tse Tung tupiniquim, quando se esperava a versão verde amarela da Revolução Cultural, o mundo foi ingrato com Lula. A crise nos mercados internacionais, começando pelos EUA, atingiu em cheio os delírios do politburo petista, impedindo a tão sonhada decolagem do país em direção ao status de potência. Até mesmo a oportunidade gerada pelo etanol não foi capaz de ter por parte do governo as ações efetivas e necessárias. E aí, em pleno ano eleitoral, Lula se vê diante da maior variedade de problemas que já teve em seis anos: o PAC não decola por pura incompetência de sua equipe gestora; a inflação teima em voltar, puxada pela alta da carne que é conseqüência direta da irresponsabilidade governamental há quatro anos atrás durante a ameaça de um surto de febre aftosa; a proclamada auto-suficiência energética esbarra na realidade de uma companhia petrolífera que tem o pior desempenho financeiro entre suas congêneres. Soma-se a tudo isso os escândalos sobre corrupção e tráfico de influências, alianças políticas inconsistentes e inexplicáveis e o resultado é uma janela mostrando um futuro não tão acolhedor quanto o passado.

Mas apesar de tudo isso, como noticiado na Veja, o país conseguiu triunfos econômicos inimagináveis há alguns anos atrás. Multinacionais brasileiras crescendo no mercado internacional, como a Vale e a Embraer ( contrariando o ideário estatizante oficial ), mostram que, se o Estado não atrapalha, o país dá certo. Todas as conquistas relatadas na revista remetem à atividades em que a participação do Estado é irrelevante. Se olharmos para os setores onde a atuação estatal, seja como fiscalizadora, financiadora ou incentivadora, é essencial, não constatamos os mesmos resultados dos demais setores.

É hora de pensar nas razões para que a Vale do Rio Doce se torne uma das 3 maiores mineradoras do mundo e a Embraer esteja entre os 5 maiores fabricantes internacionais de aviões, enquanto tem gente no governo que sonha com sua reestatização. Enquanto empresas e bancos brasileiros crescem no mercado externo, a Petrobrás ficou de fora na exploração de petróleo em Angola, somando-se a isso o chute que levou na Bolívia.

Só faltou uma tarja na capa de Veja: O Governo faz mal a saúde do país.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ESPETÁCULOS TELEVISIVOS


Poucas pessoas no lulismo conseguiram destruir sua biografia, do ponto de vista comportamental, como o Ministro da Justiça Tarso Genro. As declarações do ministro rebatendo as do presidente do STF, Gilmar Mendes, foram a mais extraordinária demonstração de demagogia e populismo, dignas de nosso Pequeno Timoneiro, mas não do pai de Luciana Genro.

O Presidente do STF não atacou a operação da Polícia Federal, mas a forma como aconteceu e as prisões desnecessárias. E a desnecessidade não vem do status sócio-econômico como pretendeu Tarso genro, mas da falta de razão jurídica para tal. A prisão temporária somente tem razão quando absolutamente necessária para as investigações ou quando existe a possibilidade de que os investigados destruam provas ou ameacem testemunhas, o que não é o caso dos envolvidos nessa operação. Se fossem pobres também não poderiam ser presos e se o fossem, é devido ao despreparo de nossa polícia e não por elitismo judicial.

Ao rebater as declarações de Gilmar Mendes da forma como o fez, Tarso Genro se nivelou a José Dirceu, seu inimigo número 1 dentro do PT. As algemas só devem ser usadas quando necessário e não para fazer show diante de câmaras de TV. Se não há resistência por parte do preso, qual a razão de algemá-lo? Pobre ou rico, nenhum cidadão deve ser constrangido se ainda não foi condenado. Não se trata de flagrante, o que talvez até justificasse o espetáculo, mas as provas já tinham sido colhidas por mais de 1 ano de investigações. Assim, não existem justificativas jurídicas para os shows protagonizados pela Polícia Federal, que já vem dando um show de eficiência, não necessitando deste triste expediente, usado nessa operação.

Todos lembram dos casos Schincariol e Daslu. Os investigados não foram soltos porque são ricos, mas porque suas prisões não se justificam. As provas foram colhidas sem resistência e cabe ao Ministério Público cumprir seu papel. Por sinal, se o MP trabalhasse realmente ao lado das polícias, os inquéritos seriam muito mais eficientes e ágeis. Trabalhar ao lado não é se limitar a fazer requisições nos inquéritos por escrito, a cada 30 dias, mas dialogar com delegados e policiais, atuar junto com os escrivães, dar norte às investigações, zelar pela legalidade da coleta de provas. Mas a postura de autoridade ilimitada dos membros do MP jamais permitiria tais atitudes. Eles refutam essas afirmações, dizendo que trabalham em conjunto, mas a realidade mostra o contrário.

O que se viu nessa semana que passou, foi uma instituição que vem dando mostras de sua eficiência a cada dia, cair na armadilha do espetáculo demagógico e defendidas por alguém que construiu uma biografia política pautada na ética e na prática democrática, mas agora cai no lugar comum do populismo barato, transformando em debate ideológico aquilo que deveria ser tratado como questão técnica e de bom senso.

É triste, mas parece ser este o maior legado que o Governo Lula deixará: a destruição de biografias construídas na luta democrática e na ética, que se lambuzaram no poder e se apegaram à sua liturgia.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ.

A recente declaração de apoio à Severino Cavalcante soma-se a mais de uma centena de apoios e gestos de solidariedade incompreensíveis por parte de Lula. Não por conta dos apoios em si, mas do passado de quem os declara. Os eleitores de Lula votaram na proposta de um governo ético, contrário ao fisiologismo político e a uma forma de fazer política desgastada.

Mas o que se sucedeu a partir da vitória de Lula foi exatamente a mesma forma de fazer política, o mesmo fisiologismo travestido de “governabilidade” e toda uma carreira política negada através de atos incompreensíveis. Dos apoios iniciais a José Dirceu e Pallocci ( compreensíveis dentro da lógica partidária brasileira, mas incoerentes com as promessas de campanha e as expectativas dos eleitores ) chegamos ao apoio incondicional a Renan Calheiros, à aliança política com José Sarney e Jader Barbalho. Depois, a defesa da viagem familiar do Governador do Ceará ( coerente com os passeios dos amigos de seus filhos em aviões da FAB ) e agora com o apoio à candidatura de Severino Cavalcante à prefeitura de sua cidade.

Afinal, que Lula é esse? Um homem que fundou um partido propondo mudanças estruturais na política partidária nacional e que ao chegar no poder, ao invés de mandar esquecer o que escreveu ( nem podia já que nunca escreveu nada ) determina o esquecimento de tudo que falou, pensou e prometeu.

O novo Lula acha ético levar a sogra para passear na Europa com dinheiro público, acha normal financiar campanhas políticas com caixa dois e entende ser absolutamente normal o tráfico de influências de seu filho, seu irmão e de seu grande amigo. E agora, não vê nada demais em apoiar um político medíocre, apeado de seu mandato por corrupção. As escolhas de Lula, por si só, são apenas infelizes, mas quando refletem uma opção de todo um governo, aí a coisa fica preta.

Esse governo opta pela clientelismo político, pelo fisiologismo administrativo do leilão de cargos, da eliminação do critério técnico para nomeações, pela demagogia, pelo assistencialismo puro do Bolsa-Família, por operações policiais estéticas mas sem conteúdo ( alguém já tomou conhecimento de alguma condenação, pelo menos em primeira instância?), pela perda de oportunidades e quem paga o preço? Somente aqueles que pensam? Não, todos pagam, até mesmo os infelizes que usufruem de um Programa Eleitoreiro travestido de social.

A crise internacional começa a nos pegar, confirmando o que se dizia desde 2003 sobre a política econômica frágil que só dava resultados positivos, porque surfava nas ondas da economia mundial. Bastou um chilique na economia norte-americana e a inflação ameaça voltar. Talvez a máscara comece a cair, mas não será tarde demais?
COMBATE AO CRIME.

O primeiro fim de semana da Lei de Tolerância Zero ao Álcool foi uma mostra das maravilhas que nos proporcionam o Governo, o Congresso e nossas polícias. Mais de 180 marginais de altíssima periculosidade foram presos, por terem tomado dois ou três copos de cerveja, transformando-se assim em elementos perigosíssimos para a sociedade. Imagino o orgulho dos policiais que prenderam esses marginais, muitos com famílias no carro ( cúmplices desses bandidos ).

Enquanto automóveis eram parados nas estradas, dezenas de caminhões e ônibus sem freio, com problemas de balanceamento, e sem a menor condição de tráfego, passavam impunemente pelos postos de vigilância. Mas a polícia rodoviária não tem que se preocupar com isso, pois o problema são os seguidores de Zeca Pagodinho. Os traficantes dos morros e favelas, os receptadores de automóveis roubados, os policiais corruptos que liberam veículos sem vistoria ou vendem carteiras de habilitação, todos esses não traduzem perigo à sociedade. Pelo menos não se comparados aos marginais que se atrevem a beber cerveja em festas de aniversário ou alguns copos de chope nas noites de sábado

Deixando a ironia de lado, somente um Congresso como esse poderia aprovar uma modificação no Código Nacional de Trânsito como essa. Não sou e jamais serei defensor das barbáries cometidas por motoristas alcoolizados, mas prender um pai de família por ter traços de álcool no sangue, mesmo que provocados por um copo de cerveja, é estupidez. Os acidentes provocados por veículos sem condições de segurança superam aqueles provocados pela bebida, mas as estatísticas não expressam esse número, pois são amostras da corrupção policial não assumida. As carteiras de habilitação vendidas à pessoas despreparadas constituem perigo muito maior do o álcool. É preciso penalizar os motoristas alcoolizados que infringem a lei mas é preciso bom senso.

Moralizar o trânsito implica em, necessariamente, combater a corrupção nos Detrans de todo o país, combater as máfias de auto-escolas que vendem carteiras, a roubalheira na manutenção de estradas, fazer cumprir a obrigatoriedade de vistoria em veículos usados, aumentar a exigência de itens de segurança em veículos novos e não considerar que prender algumas pessoas que beberam em festas de crianças são os responsáveis por acidentes de trânsito decorrentes da omissão do Estado.

Enquanto isso, vamos embarcar na hipocrisia. Outro exemplo é a “nova” CPMF. Por que não criar uma CIDE sobre bebidas alcoólicas, com destinação integral para a saúde? Existem garrafas plásticas de cachaça vendidas em supermercados à R$ 0,50. Torna-las mais caras, destinando verba para o serviço público de saúde seria uma política correta. Mas jamais poderíamos esperar medidas corretas de um Congresso formado por 300 amigos do Lula.