segunda-feira, 16 de março de 2009

Mistérios

O famoso processo de compra dos novos caças para a Força Aérea Brasileira traz algumas curiosidades que igualam os problemas do setor militar ao civil. Quando da primeira versão do programa FX, ainda no Governo FHC, o caça russo Sukhoi SU-30 foi considerado por praticamente todo o pessoal da FAB como o melhor candidato em todos os quesitos: autonomia, manutenção, robustez e transferência de tecnologia. Na época, concorrendo com o francês Mirage 2000, da Dassault, e com o sueco Gripen, da Saab, o avião russo era o favorito, mas sofria a concorrência política dos franceses, pois a Dassault tornou-se acionista da Embraer e passou a fazer pressão no Congresso Nacional e no próprio Ministério da Defesa.

Suspenso o programa na transição de Fernando Henrique para Lula, foi adiado para o próximo mandato, sendo reaberto apenas no ano passado. A razão da preferência do pessoal da FAB era justificada, pois o Gripen não tinha autonomia para um território como o nosso; o Mirage 2000 era um projeto da década de 70 e já estava fora de linha na França; os EUA, que concorriam com o F-16, já estavam fora do jogo diante da limitação de transferência de tecnologia, absolutamente proibida por lei federal norte-americana. Diante da impossibilidade de operar dos caças Mirage III brasileiros, o Governo Lula, emergencialmente, comprou 12 caças franceses usados Mirage 2000 para suprir o treinamento dos pilotos até a chegada dos novos caças.

Os candidatos mudaram, participando novos caças dos mesmos fabricantes. Os EUA vieram com o Hornet, os alemães com o Tornado, os franceses com o Rafale, os suecos com o Gripen NG (apenas um projeto com dois protótipos em vôo) e os russos com o SU-35 (versão mais sofisticada do SU-30). Curiosamente o caça russo foi descartado logo na primeira fase do programa, sem maiores justificativas. O mais estranho é que o Gripen NG, que é apenas um projeto, continua tendo baixa autonomia diante do enorme espaço aéreo brasileiro, mas foi selecionado. O caça da Boeing, o F/A-18 Hornet, continua sendo vendido com inúmeras restrições de armamentos e aviônicos, contrariando a própria Política Nacional de Defesa, documento elaborado pelo atual governo. O caça francês é o mais caro dos candidatos, não tendo uma relação custo-benefício tão atraente.

O caça russo, além de introduzir alta tecnologia na FAB, poderia estreitar ainda mais os laços entre o Brasil e a Rússia, que já se torna um grande fornecedor de armas para o Exército. A própria Sukhoi já vinha se aproximando da Avibrás, para facilitar a manutenção e transferência de tecnologia. As alegações de que a indústria russa utiliza medidas que tornam difícil a compra de equipamentos pelos países ocidentais cai por terra diante da compra de Helicópteros Mil pela FAB e da própria utilização de caças Sukhoi e Mig por países sul-americanos, também habituados aos padrões ocidentais.

Diante disso, fica a pergunta: estão os militares se tornando cada vez mais parecidos com os civis no que diz respeito ao sacrifício do pensamento no todo em prol do benefício individual ou de grupos? Esperamos que não.

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