quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

GOSTAR DO QUE SE FAZ
Desde a última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), vários articulistas vêm questionando a posição de Lula, pois o nosso Pequeno Timoneiro afirmou seguidas vezes que os juros deveriam cair. Presumindo-se que o presidente da República é a mais alta autoridade política, militar e econômica da nação, todo mundo acreditou que o presidente do Banco Central iria obedecer ao chefe. Mas não foi o que aconteceu. E a conseqüência disso? Nada.
O que mais chama a atenção na reação da imprensa é a falta de memória e uma espécie de ausência de observação nos acontecimentos políticos dos últimos seis anos. Desde o início de 2003 Lula deixou bem claro que não gostava de governar. Para ele, o mais importante era o papel de chefe de Estado, que inclui viagens internacionais, discursos na ONU e em uma infinidade de encontros políticos, divulgar projetos mirabolantes e chamar a atenção publicamente daqueles que não tornam suas promessas realidade.
Primeiro, o papel de chefe de governo era dividido entre José Dirceu e Gushiken. Com a queda de ambos, o papel passou a ser exercido por Pallocci. Lembremos que na queda dos dois primeiros, Lula afirmou não saber o que faziam, o que já deixava claro que não gostava de saber das coisas do governo. Quando Pallocci caiu, Lula se viu em um mato sem cachorro, pois havia perdido o chamado "núcleo duro" de seu governo. Mas aí apareceu Dilma, segundo Sarney, a "sacerdotisa do poder público" (ninguém conseguiu entender o que ele quis dizer com isso, mas tudo bem).
O problema é que a ministra não gosta de política. Odeia discursos e não tem paciência com a imprensa, muito menos com os políticos, se bem que com esses até o povo está sem paciência. Estaria tudo bem, já que Lula adora discursos, viagens, imprensa e políticos (de preferência estrangeiros, mas os nacionais também servem, desde que seja em um churrasco), mas nosso diminuto líder resolveu escolher sua primeira-ministra como a eventual sucessora nas próximas eleições. E eleições envolvem tudo aquilo que Dilma não se sente a vontade quando faz.
Mas Lula gosta tanto de discursos que faz por ela e gosta tanto de viagens que viaja com a ministra mesmo que ela permaneça calada a maior parte do tempo. O importante não é transformar Dilma em um fenômeno eleitoral, mas conceder a ela cacife político para fazer o que ele não gosta: governar.
É aí que entra Meireles. O presidente do Banco Central tem cuidado da política econômica do governo sem muitos problemas, a não ser o PT (paradoxalmente o partido do presidente da República!). Mas apesar da gritaria do partido de seu chefe, faz o que bem entende na condução da política econômica, principalmente após a saída de Pallocci, pois com Mantega seu trabalho ficou muito mais fácil.
Não tendo ninguém capaz de dividir o comando, o presidente do BC cuida da política cambial, dos juros, da emissão de moeda e acaba determinando o que os outros ministros podem ou não fazer. Com isso, mesmo com Lula chamando a crise de marolinha, afirmando que estamos blindados e aconselhando Obama sobre como governar, o país segue enfrentando a crise como pode. O conservadorismo de Meireles pode ser criticado, mas é preciso que se reconheça que seria mais fácil agradar o chefe do que deixá-lo amuado.
Mas o presidente do Banco Central sabe que a chateação do chefe não tem conseqüência nenhuma, pois sem Meireles no comando e com Mantega e Dilma lhe assessorando, Lula não desfrutaria de 70% de aprovação por parte da patuléia. E para um chefe de Estado é isso que importa. Para governar é melhor manter o zelador.

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