terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ano novo, fatos velhos

E 2008 se foi com fogos e festas. As expectativas nessa época sempre são otimistas, mas curiosamente não é o que se vê. A crise internacional, que para nós era uma marolinha, vai aumentando de tamanho e gravidade, e 2009 promete ser um ano de demissões, redução de investimentos e escassez de crédito. O curioso é que em Brasília parece que ninguém acompanha o noticiário. No Congresso e no próprio governo, a palavra de ordem é gastar. O Fundo Soberano, objeto de medida provisória recente, é um caso típico de irresponsabilidade.
Todos os casos de fundos da mesma natureza são alimentados por superávits, seja decorrentes de petróleo, como de produção industrial ou comércio exterior. O nosso é o único que é alimentado por endividamento público. Sem dúvida, o que o governo faz na prática é gastar por conta do petróleo que está abaixo da camada de sal, em altas profundidades e que se tornou inviável economicamente diante da queda brutal do preço internacional do barril. Já que o pré-sal vai demorar, cria-se um fundo lastreado por títulos públicos que poderão ser pagos quando o petróleo jorrar, ou seja, vamos gastar por conta.
É o país imitando seus cidadãos, que mergulham no cheque especial e nunca mais conseguem sair. Não é surpreendente, embora seja absurdo, pois no meio de uma crise dessa, com total recuo dos investimentos internacionais e da escassez de liquidez, o Estado brasileiro continua perdulário. Não se vê um movimento em direção a economia por parte do governo, muito menos do Congresso.
Nada de novo em um país cujo governo acha que suas manifestações sobre a crise palestina são relevantes. Afinal, o que esperar de um governo em que o presidente da República critica nos bancos privados aquilo que seus dois bancos públicos fazem até pior? O governo alardeou a liberação de crédito por parte da Caixa Econômica Federal, para socorrer empresas em dificuldade. Realmente o crédito existe, mas desde que você tenha garantias reais equivalentes ao dobro do valor emprestado, ou tenha dois avalistas com patrimônio e renda equivalentes aos seus. Nem bancos particulares trabalham assim, mas serve ao menos para propaganda.
Isso sem contar com as taxas praticadas pelas duas instituições federais, que ao invés de puxarem a concorrência para baixo, se igualam ao que há de pior no mercado. Mas não importa se 2009 será um ano duro. O que é realmente importante é que é novo. E sempre temos a oportunidade de tentar mudar alguma coisa, mesmo que seja o limite de nossa paciência.

2 comentários:

O Mascate disse...

E o povão perdulário e crédulo foi às compras com tamanha avidez que os comerciantes estão rindo à valer.
Não dá para entender essa situação, o mundo está com as barbas de molho e o brasileiro está enfiando os dois pés na jaca, gastando com vontade, comprando e viajando, bares lotados de segunda a segunda, restaurantes com fila nas portas, lanchonetes e shopping center abarrotados, a construção civil "bombando", principalmente aqui em Santos, com empreendimentos gigantescos e lançamentos de novos prédios quase que semanais, o preço dos imóveis na região disparou na ordem de quase 100%, uma loucura consumista nunca vista antes, e o mundo com as barbas de molho..Fico imaginando na hora que essa marolinha que já tem ares de ressaca das brabas tomar proporção de tsunami e pegar a nossa economia, o que irá acontecer com tantos apartamentos financiados? Carros novos com parcelas de cinco anos para pagar? E o cartão de crédito e cheque especial estourados justamente no momento em que o emprego foi levado pela maré.
Estamos vivendo um momento de uma bolha meio que delirante, e essa está prestes a estourar, e quando isso acontecer quero ver o que a "Madre Tereza de Garanhuns" vai dizer para o povão.

Roberto, este seu artigo tomei a liberdade de publicar no meu Blog, mas respeitando o seu direito autoral.
Abçs

Política & Conversa disse...

Pois é Fernando. O pior é que tudo era previsível, da mesma forma como a âncora cambial também apontava em direção ao que aconteceu em 1998, com a disparada do dólar. Parece que coisas óbvias não são entendidas pelos nossos gênios governantes.
Um abraço e esteja a vontade para publicar esses artigos.