terça-feira, 13 de janeiro de 2009

PERGUNTAR NÃO OFENDE

Eu sei que alguns acham que pego no pé do atual governo, mas fazia as mesmas críticas durante a era FHC, relativamente à nossa política externa. O que Celso Amorim está fazendo em Israel? Tentei entender a lógica de nossa política externa, seja aquela praticada por Celso Amorim, ou a que vem da genialidade de Marco Aurélio Garcia, mas não consigo atingir o brilhantismo intelectual de ambos, razão pela qual sou obrigado a fazer algumas perguntas para clarear meu entendimento.
Desde o início do primeiro mandato de nosso Pequeno Timoneiro, o Itamaraty vem procurando deixar claro alguns objetivos de nossa política externa. Um deles, fica claro, é firmar o Brasil como potência política regional na América do Sul. Com seis anos de implementação desse objetivo político, temos Bolívia, Equador e Paraguai desafiando nosso governo constantemente. A Venezuela vem se consolidando como a verdadeira liderança desse Bloco dos Populistas, desconsiderando as ambições brasileiras a liderar o continente. Quanto aos nossos hermanos argentinos, continuam a fazer o que sempre fizeram, se fingem de bonzinhos quando precisam e nos desprezam quando saem do atoleiro emergencial.
E como nossa política externa reage? Acariciando-os, no máximo chamando um embaixador para prestar informações. E somos objeto de provocações e ameaças constantemente. Os brasileiros na Bolívia ou no Paraguai são os alvos preferenciais da demagogia desses governos populistas, sem terem por parte do Itamaraty a mesma preocupação aparente que nosso chanceler demonstrou essa semana com os brasileiros residentes na Faixa de Gaza.
Nossa política externa não consegue emplacar nenhum nome em organismo internacional que dependa do apoio de seus "aliados" sul-americanos e considera uma grande vitória o fato de não convidar representantes dos Estados Unidos ou da Europa para passar o fim de semana na Bahia. O Brasil está muito longe de ser uma potência militar mesmo entre seus pobres vizinhos. Até a Força Aérea da Venezuela está mais bem equipada do que a nossa.
Do ponto de vista econômico nosso país é um gigante em comparação com quase todos os irmãos da América Latina, mas não somos capazes de impor nossa vontade em reuniões de cúpula ou em acordos bilaterais. E politicamente somos irrelevantes no cenário internacional, não por causa de nosso tamanho físico ou da importância de nossa economia, mas justamente em virtude dessas posturas amadoras de nossa diplomacia.
Então fica a pergunta: o que Celso Amorim está fazendo em Israel?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ano novo, fatos velhos

E 2008 se foi com fogos e festas. As expectativas nessa época sempre são otimistas, mas curiosamente não é o que se vê. A crise internacional, que para nós era uma marolinha, vai aumentando de tamanho e gravidade, e 2009 promete ser um ano de demissões, redução de investimentos e escassez de crédito. O curioso é que em Brasília parece que ninguém acompanha o noticiário. No Congresso e no próprio governo, a palavra de ordem é gastar. O Fundo Soberano, objeto de medida provisória recente, é um caso típico de irresponsabilidade.
Todos os casos de fundos da mesma natureza são alimentados por superávits, seja decorrentes de petróleo, como de produção industrial ou comércio exterior. O nosso é o único que é alimentado por endividamento público. Sem dúvida, o que o governo faz na prática é gastar por conta do petróleo que está abaixo da camada de sal, em altas profundidades e que se tornou inviável economicamente diante da queda brutal do preço internacional do barril. Já que o pré-sal vai demorar, cria-se um fundo lastreado por títulos públicos que poderão ser pagos quando o petróleo jorrar, ou seja, vamos gastar por conta.
É o país imitando seus cidadãos, que mergulham no cheque especial e nunca mais conseguem sair. Não é surpreendente, embora seja absurdo, pois no meio de uma crise dessa, com total recuo dos investimentos internacionais e da escassez de liquidez, o Estado brasileiro continua perdulário. Não se vê um movimento em direção a economia por parte do governo, muito menos do Congresso.
Nada de novo em um país cujo governo acha que suas manifestações sobre a crise palestina são relevantes. Afinal, o que esperar de um governo em que o presidente da República critica nos bancos privados aquilo que seus dois bancos públicos fazem até pior? O governo alardeou a liberação de crédito por parte da Caixa Econômica Federal, para socorrer empresas em dificuldade. Realmente o crédito existe, mas desde que você tenha garantias reais equivalentes ao dobro do valor emprestado, ou tenha dois avalistas com patrimônio e renda equivalentes aos seus. Nem bancos particulares trabalham assim, mas serve ao menos para propaganda.
Isso sem contar com as taxas praticadas pelas duas instituições federais, que ao invés de puxarem a concorrência para baixo, se igualam ao que há de pior no mercado. Mas não importa se 2009 será um ano duro. O que é realmente importante é que é novo. E sempre temos a oportunidade de tentar mudar alguma coisa, mesmo que seja o limite de nossa paciência.