quarta-feira, 30 de julho de 2008

O PETISMO E A CRÍTICA.

Logo após a publicação de meu artigo “Lula e o Mundo”, recebi e-mail de um leitor que dizia o seguinte: “Quanta asneira, desinformação e manipulação de notas. O senhor acha que se o cenário real fosse esse pintado por suas palavras a aprovação do Presidente estaria na casa dos 70%?”. É curioso como a crítica é recebida pelo petismo e seus seguidores. É ótimo para o articulista ter retorno de seus artigos, sejam eles positivos ou negativos. Mas o petismo, desde sua fundação, tem como base de sua existência acreditar que são os donos da verdade e proprietários da ética, não havendo direito algum de crítica àqueles que não comungam da estrela vermelha. Um estilo stalinista de ser, digamos assim.

Realmente a aprovação de Lula é impressionante, quando analisada apenas do ponto de vista percentual. Mas se as notas e dados de meu artigo não são falsos, mas apenas reprodução de jornais como Gazeta e Monitor Mercantil, revistas como Veja, Época e até mesmo Carta Capital, como pode ser explicada a popularidade do Presidente? Para encontrar a resposta é preciso gastar pelo menos 3 minutos para pensar, coisa rara para o lulo-petismo. Os resultados da Petrobrás, o aumento da carga tributária, os escândalos da compra de votos e do fisiologismo na administração interessam a quem? Somos aproximadamente 180 milhões. A circulação total das revistas semanais não passa da casa de 2,5 milhões, assim como a audiência de programas de debates e de cunho jornalístico é infinitamente inferior a das novelas e seriados.

Se fizermos o cálculo do que representam 70% da população brasileira chegamos a 126 milhões de “cidadãos”. O Bolsa-Família atende cerca de 40 milhões de pessoas, incluídas aí todas aquelas ligadas às famílias beneficiárias ( dados do próprio governo federal ). Essa conta é feita com base no número de famílias credenciadas e portadoras dos cartões do programa oficial. Vemos assim, que uma boa parte da popularidade do Presidente é fácil de explicar. Já cansei de dizer que não sou contra a idéia do Bolsa-Família, mas de sua concepção assistencialista que o torna eleitoreiro, já que perpetua a condição de dependência de quem o recebe. Além disso, ocorre com Lula o mesmo que ocorria com FHC, o chamado “efeito teflon”, pois nada gruda no Presidente. As frases “não sabia de nada” ou “fui traído” serviram de desculpa para tudo.

A popularidade de um governante não traduz necessariamente sua qualidade, eis que Severino Cavalcante é o primeiro nas pesquisas de sua cidade natal. Tenho certeza de que o leitor que enviou o e-mail não defenderia Severino. Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno, em um desempenho muito melhor do que Lula em sua reeleição e isso não traduzia os problemas daquele governo, por sinal muito parecidos com os atuais: manipulação de números, política econômica ortodoxa, resultados pífios no comércio exterior, fisiologismo eleitoral e administrativo.

É preciso que se entenda que criticar o atual governo, da mesma forma como se criticava o anterior, está bem longe da dicotomia “bem ou mal”. Não é possível que o leitor ache natural uma aliança política entre Lula e Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho e o próprio Severino Cavalcante. O cenário real da economia brasileira é exatamente aquele e muito mais. A incompetência da área técnica do governo não é denunciada por mim, mas o motivo de irritação constante de Lula, que não consegue tornar realidade seus discursos. É preciso mudar os rumos políticos e administrativos desse país e pouco importa quem esteja no poder.

Espero continuar a receber mais mensagens de leitores e as agradeço sempre, pois são uma chance de aprendizado e crescimento constante, coisa que nossos governantes deveriam aprender a fazer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Entrevista Jornal Vicentino


Simpático, o advogado Roberto Mohamed Amin Junior recebeu a equipe do Jornal Vicentino em um dos seus quatro escritórios de advocacia, em Santos. Formado pela Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Direito Empresarial e mestrando em Direito, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Roberto falou um pouco sobre sua vida, carreira e conquistas. Leia a entrevista a seguir.
Ele é um dos mais conceituados advogados da Baixada Santista e também um colecionador de miniaturas. Predestinado, Mohamed tem uma extensa bagagem profissional, já participou de congressos e seminário no Brasil, Argentina e Holanda e é membro da Academia Brasileira de Direito Tributário.A comunicação também é uma de suas paixões. Atualmente ele assina a coluna semanal “Política e Conversa” do Jornal Monitor Mercantil do Rio de Janeiro e é comentarista político do telejornal Opinião da TV Record Litoral. Considerado muitas vezes polêmico, o advogado tem opiniões fortes e costuma expor de forma clara e direta seus pensamentos. Durante entrevista ao JV, Mohamed contou sua trajetória, revelou momentos difíceis e ressaltou alguns episódios de sua vida. Confira na íntegra a matéria.
Jornal Vicentino - O senhor nasceu em Santos. Onde ?
Roberto Mohamed - Nasci na Casa de Saúde. Morei na Encruzilhada muitos anos. Eu nasci e morei até os 14 anos na Avenida Conselheiro Nébias. Dos 17 até casar morei no Embaré. Tenho dois irmãos. Sou um santista apaixonado pela Cidade. Torço por Santos, tenho escritórios em São Paulo, no Rio e em Brasília e nunca pensei em sair daqui. A minha vida é muito mais intensa em São Paulo, mas sair de Santos nunca.
JV - O senhor tem descendência libanesa. Teve alguma influência em sua infância ? Como era esse tempo ?
Roberto - Não. Por parte de mãe, meus bisavós eram portugueses e de pai meu avô era libanês e minha avó filha de sírios. Eu não cheguei a ter nenhuma influência, não fomos criados dentro de preceitos religiosos ou coisa do tipo. Fui criado em uma época em que se podia brincar na rua. Joguei taco, futebol na rua, quebrei todos os ossos possíveis. Tive uma infância bem vivida. Tenho ótimas lembranças do colégio. Ao mesmo tempo que eu era um bom aluno eu não gostava de sentar na frente, nem de andar com os “CDFs”. Como eu compensava nas provas, minhas notas de comportamento eram péssimas. Mas fui presidente do Centro Cívico, no Colégio Santista.
JV - Onde o senhor estudou desde sua infância ?
Roberto - Fiz o pré-primário no Sesc, quando ainda tinha, o primário no Docas e depois fui para o Colégio Santista. Primeiro eu fiz Jornalismo, mas abandonei no segundo ano de faculdade.
JV - Por que desistiu do jornalismo ?
Roberto - Desisti em 1985 e em 1989 fui fazer Direito. Uma série de coisas na minha vida aconteceram na época e eu me desencantei um pouco. Da minha turma tenho contato com eles até hoje. Na TV Mar encontro colegas de turma como Carlos Lopes, a Rosana Cerqueira, que hoje está na GloboNews, a Rosana Major que está na Prefeitura, éramos da mesma classe de jornalismo.
JV - A que o senhor se dedicou no intervalo entre uma faculdade e outra ?
Roberto - Não estudava nesse período. Trabalhei primeiro na Embratel, depois fui trabalhar no Banespa como concursado e 1977 no Fórum. Fiquei no fórum até 1989 e passei em um concurso da Justiça Federal onde fiquei até 1995. Depois comecei a advogar.
JV - O trabalho no Fórum foi o responsável pela escolha profissional ?
Roberto - Sim, foi a influência disso e também da minha ex-esposa. Eu casei e eu estava no segundo ano da faculdade, ela foi minha grande incentivadora. Me formei na Unisantos.
JV - E como foi sua trajetória depois de formado ?
Roberto - Eu sai da Justiça Federal e fui advogar para sindicatos. O primeiro foi o Sindaport. Essa era uma área que eu conhecia. O mercado era aparentemente saturado, apesar de eu discordar dessa afirmação porque sempre tem lugar para quem é bom, mas aquele foi um momento delicado da minha vida. Isso porque no início da advocacia decidi jogar tudo para o alto: cargo público, casamento, tudo, e comecei do zero. Tive muita sorte, mas também tive condições de manter as portas abertas. Em 1995 tive um momento em que não tinha dinheiro nem para pegar ônibus. Prometi então para mim mesmo que isso não aconteceria mais. Aí acho que minha estrela brilhou, comecei em um escritório pequeno na Marcílio Dias.
JV - Em qual momento o senhor sentiu que sua vida iria mudar ? A que atribui isso ?
Roberto - Foi quando eu decidi que precisava acreditar em mim, sem ficar acomodado esperando as coisas caírem do céu. Na hora que eu decidi não ficar na calçada chorando, as coisas começaram a acontecer. Daí montei meu primeiro escritório na Marcílio Dias. Era uma sala muito pequena. Trabalhava sozinho no começo.
JV - E como foi esse início ?
Roberto - Foi difícil porque eu tinha que fazer de tudo. Éramos eu e uma estagiária. Com mais ou menos seis meses de escritório aberto entrou outra estagiária que depois virou minha sócia, aliás é até hoje. O escritório tem 11 anos e meio e ela está comigo há 11. Depois entrou mais uma estagiária que também se tornou sócia. Assim que elas se formaram, nada mais justo, que agregá-las. Foi aí que nasceu o escritório como pessoa jurídica, isso foi em 1998.
JV - O senhor escolheu o Direito Tributário. Porque?
Roberto - Primeiro porque eu conhecia bem essa área. Eu tinha duas opções na época: fazer o arroz e feijão, como todo mundo, ou ia para uma área que eu conhecia. Como já tinha trabalhado na federal como contador judicial, fui para o caminho mais óbvio. Na época tinham poucos advogados previdenciários, pouca concorrência. Hoje Santos tem muitos advogados nessa área. Escolhi também a área tributária pessoa física.
JV - Hoje são quatro escritórios no Brasil, em Santos, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Como é conciliar tudo ?
Roberto - Eu não tenho medo de coisa nova. Tem muita gente querendo ir para São Paulo e pensando que a cidade vai “te engolir”, quando eu cheguei lá (SP) da mesma forma como aqui, também tinha gente ruim e havia espaço para quem fosse bom. Hoje o escritório de São Paulo é maior que o de Santos. O de Brasília é mais operacional. Como eu atendo no Brasil inteiro e o réu normalmente é a união estatal ou estatal, aí eu distribuo em Brasília.
JV - O senhor chegou a cursar dois anos de Jornalismo. Apesar de não concluir o curso, o senhor sempre está em meio à comunicação. Ficou a vontade de se tornar jornalista ?
Roberto - Eu sempre fiz algumas coisas. Na TV Santa Cecília sempre me convidavam para participar do Caderno do Porto. Um dia, por acaso, me convidaram para ir na TV Mar para falar sobre previdência privada. Sem eu saber havia um telespectador especial no dia. Era o Gastone Righi. Me chamaram depois na semana seguinte e fiquei sabendo que tinha sido porque o Gastoni estava naquele dia. Nunca mais sai, estou lá como comentarista há seis anos. Eu tive também um programa de rádio durante um ano na Hits FM, o Painel, que eu apresentava com o Douglas Gonçalves. Foi um programa que fez história, porque era tipo uma conversa de bar, onde falávamos sobre tudo. Eu adoro rádio. Hoje estou na CBN Litoral, das 9 às 11 da manhã. É um jornal de debates, com teor também político e lembra um pouco o Painel.
JV - O programa de rádio Painel foi uma realização para o senhor. Porque ?
Roberto - O Painel era um programa totalmente informal, sem censura e sem linguagem definida. Começávamos falando de política, terminávamos falando de Beatles. Levamos pessoas importantes, como Geraldo Alckmin e todas as pessoas que eram formadoras de opinião na Região participaram do programa pelo menos uma vez. Lembro que uma vez eu estava no aeroporto em Congonhas e encontrei a ex-senadora Heloisa Helena. Já tínhamos entrevistado ela duas vezes pelo telefone. E a mágica do rádio é essa, porque você consegue entrevistar uma pessoa em qualquer lugar. E quando eu fui falar com ela e me apresentei ela disse: “Painel aquele programa de Santos ?”, me abraçou e conversou comigo. Isso foi muito legal, porque a gente primava até pela qualidade das perguntas que fazíamos para os entrevistados. Acho que nosso programa era inovador pelo formato aberto. Não seguíamos pauta, falávamos o que queríamos. Meu sonho é o Painel voltar. O problema é encontrar uma rádio onde a gente possa ter a mesma liberdade. Nesse ponto eu só tenho a agradecer a Hits FM, porque ficamos durante um ano sem censura nenhuma. Acabei saindo por fofocas, por um comentário que tomou uma proporção maior.
JV - O senhor é comentarista político. Nunca pensou em seguir carreira pública ?
Roberto - Essa mosquinha não me mordeu. Eu faço política como comentarista. Ser político não. Eu prefiro jogar pedra.
JV - Como o senhor vê o cenário político atual na Região ?
Roberto - Está sem graça, monótono. Acho que Cubatão é a única cidade que reserva surpresa nas próximas eleições, porque revelou a Márcia Rosa, que para mim é uma mulher equilibrada, inteligente, culta e que conhece a cidade.
JV - As miniaturas têm um lugar especial no seu escritório. O senhor é colecionador ?
Roberto - Faço coleção sim. Tenho um lado um pouco infantil nesse ponto. Sou fascinado por aviões e por seriados de ficção científica. Não está completa ainda porque tenho muita coisa em São Paulo. Desde criança gosto disso. Sou colecionador de CDs também. Tenho cerca de 2.500 e DVDs 1.500. Tenho todo o tipo de seriado que se possa imaginar, até Ultramen. Tenho todos os seriados que passaram na Record e assisto de vez em quando. É natural que eu tenha essas miniaturas, que não são brinquedos, são coisas que me dão prazer de montar, além da paciência. Tenho tudo aqui eu monto alguns.

terça-feira, 22 de julho de 2008

LULA E O MUNDO.

A capa da Revista Veja dessa semana é sintomática e leva a refletir sobre algo que venho ( eu e mais uma centena de articulistas ) escrevendo há meses. Durante todo o primeiro mandato, o governo de nosso Pequeno Timoneiro não enfrentou nenhuma crise internacional, nem econômica nem política, o que proporcionou um crescimento inercial do PIB, pífio mas ainda assim maior do que segundo mandato de FHC. Uma política econômica ortodoxa e pouco inteligente manteve a estratégia governamental nos mesmos moldes do antecessor, motivando críticas que eram caladas com os pequenos mas reais resultados.

No segundo mandato de nosso Mao Tse Tung tupiniquim, quando se esperava a versão verde amarela da Revolução Cultural, o mundo foi ingrato com Lula. A crise nos mercados internacionais, começando pelos EUA, atingiu em cheio os delírios do politburo petista, impedindo a tão sonhada decolagem do país em direção ao status de potência. Até mesmo a oportunidade gerada pelo etanol não foi capaz de ter por parte do governo as ações efetivas e necessárias. E aí, em pleno ano eleitoral, Lula se vê diante da maior variedade de problemas que já teve em seis anos: o PAC não decola por pura incompetência de sua equipe gestora; a inflação teima em voltar, puxada pela alta da carne que é conseqüência direta da irresponsabilidade governamental há quatro anos atrás durante a ameaça de um surto de febre aftosa; a proclamada auto-suficiência energética esbarra na realidade de uma companhia petrolífera que tem o pior desempenho financeiro entre suas congêneres. Soma-se a tudo isso os escândalos sobre corrupção e tráfico de influências, alianças políticas inconsistentes e inexplicáveis e o resultado é uma janela mostrando um futuro não tão acolhedor quanto o passado.

Mas apesar de tudo isso, como noticiado na Veja, o país conseguiu triunfos econômicos inimagináveis há alguns anos atrás. Multinacionais brasileiras crescendo no mercado internacional, como a Vale e a Embraer ( contrariando o ideário estatizante oficial ), mostram que, se o Estado não atrapalha, o país dá certo. Todas as conquistas relatadas na revista remetem à atividades em que a participação do Estado é irrelevante. Se olharmos para os setores onde a atuação estatal, seja como fiscalizadora, financiadora ou incentivadora, é essencial, não constatamos os mesmos resultados dos demais setores.

É hora de pensar nas razões para que a Vale do Rio Doce se torne uma das 3 maiores mineradoras do mundo e a Embraer esteja entre os 5 maiores fabricantes internacionais de aviões, enquanto tem gente no governo que sonha com sua reestatização. Enquanto empresas e bancos brasileiros crescem no mercado externo, a Petrobrás ficou de fora na exploração de petróleo em Angola, somando-se a isso o chute que levou na Bolívia.

Só faltou uma tarja na capa de Veja: O Governo faz mal a saúde do país.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ESPETÁCULOS TELEVISIVOS


Poucas pessoas no lulismo conseguiram destruir sua biografia, do ponto de vista comportamental, como o Ministro da Justiça Tarso Genro. As declarações do ministro rebatendo as do presidente do STF, Gilmar Mendes, foram a mais extraordinária demonstração de demagogia e populismo, dignas de nosso Pequeno Timoneiro, mas não do pai de Luciana Genro.

O Presidente do STF não atacou a operação da Polícia Federal, mas a forma como aconteceu e as prisões desnecessárias. E a desnecessidade não vem do status sócio-econômico como pretendeu Tarso genro, mas da falta de razão jurídica para tal. A prisão temporária somente tem razão quando absolutamente necessária para as investigações ou quando existe a possibilidade de que os investigados destruam provas ou ameacem testemunhas, o que não é o caso dos envolvidos nessa operação. Se fossem pobres também não poderiam ser presos e se o fossem, é devido ao despreparo de nossa polícia e não por elitismo judicial.

Ao rebater as declarações de Gilmar Mendes da forma como o fez, Tarso Genro se nivelou a José Dirceu, seu inimigo número 1 dentro do PT. As algemas só devem ser usadas quando necessário e não para fazer show diante de câmaras de TV. Se não há resistência por parte do preso, qual a razão de algemá-lo? Pobre ou rico, nenhum cidadão deve ser constrangido se ainda não foi condenado. Não se trata de flagrante, o que talvez até justificasse o espetáculo, mas as provas já tinham sido colhidas por mais de 1 ano de investigações. Assim, não existem justificativas jurídicas para os shows protagonizados pela Polícia Federal, que já vem dando um show de eficiência, não necessitando deste triste expediente, usado nessa operação.

Todos lembram dos casos Schincariol e Daslu. Os investigados não foram soltos porque são ricos, mas porque suas prisões não se justificam. As provas foram colhidas sem resistência e cabe ao Ministério Público cumprir seu papel. Por sinal, se o MP trabalhasse realmente ao lado das polícias, os inquéritos seriam muito mais eficientes e ágeis. Trabalhar ao lado não é se limitar a fazer requisições nos inquéritos por escrito, a cada 30 dias, mas dialogar com delegados e policiais, atuar junto com os escrivães, dar norte às investigações, zelar pela legalidade da coleta de provas. Mas a postura de autoridade ilimitada dos membros do MP jamais permitiria tais atitudes. Eles refutam essas afirmações, dizendo que trabalham em conjunto, mas a realidade mostra o contrário.

O que se viu nessa semana que passou, foi uma instituição que vem dando mostras de sua eficiência a cada dia, cair na armadilha do espetáculo demagógico e defendidas por alguém que construiu uma biografia política pautada na ética e na prática democrática, mas agora cai no lugar comum do populismo barato, transformando em debate ideológico aquilo que deveria ser tratado como questão técnica e de bom senso.

É triste, mas parece ser este o maior legado que o Governo Lula deixará: a destruição de biografias construídas na luta democrática e na ética, que se lambuzaram no poder e se apegaram à sua liturgia.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ.

A recente declaração de apoio à Severino Cavalcante soma-se a mais de uma centena de apoios e gestos de solidariedade incompreensíveis por parte de Lula. Não por conta dos apoios em si, mas do passado de quem os declara. Os eleitores de Lula votaram na proposta de um governo ético, contrário ao fisiologismo político e a uma forma de fazer política desgastada.

Mas o que se sucedeu a partir da vitória de Lula foi exatamente a mesma forma de fazer política, o mesmo fisiologismo travestido de “governabilidade” e toda uma carreira política negada através de atos incompreensíveis. Dos apoios iniciais a José Dirceu e Pallocci ( compreensíveis dentro da lógica partidária brasileira, mas incoerentes com as promessas de campanha e as expectativas dos eleitores ) chegamos ao apoio incondicional a Renan Calheiros, à aliança política com José Sarney e Jader Barbalho. Depois, a defesa da viagem familiar do Governador do Ceará ( coerente com os passeios dos amigos de seus filhos em aviões da FAB ) e agora com o apoio à candidatura de Severino Cavalcante à prefeitura de sua cidade.

Afinal, que Lula é esse? Um homem que fundou um partido propondo mudanças estruturais na política partidária nacional e que ao chegar no poder, ao invés de mandar esquecer o que escreveu ( nem podia já que nunca escreveu nada ) determina o esquecimento de tudo que falou, pensou e prometeu.

O novo Lula acha ético levar a sogra para passear na Europa com dinheiro público, acha normal financiar campanhas políticas com caixa dois e entende ser absolutamente normal o tráfico de influências de seu filho, seu irmão e de seu grande amigo. E agora, não vê nada demais em apoiar um político medíocre, apeado de seu mandato por corrupção. As escolhas de Lula, por si só, são apenas infelizes, mas quando refletem uma opção de todo um governo, aí a coisa fica preta.

Esse governo opta pela clientelismo político, pelo fisiologismo administrativo do leilão de cargos, da eliminação do critério técnico para nomeações, pela demagogia, pelo assistencialismo puro do Bolsa-Família, por operações policiais estéticas mas sem conteúdo ( alguém já tomou conhecimento de alguma condenação, pelo menos em primeira instância?), pela perda de oportunidades e quem paga o preço? Somente aqueles que pensam? Não, todos pagam, até mesmo os infelizes que usufruem de um Programa Eleitoreiro travestido de social.

A crise internacional começa a nos pegar, confirmando o que se dizia desde 2003 sobre a política econômica frágil que só dava resultados positivos, porque surfava nas ondas da economia mundial. Bastou um chilique na economia norte-americana e a inflação ameaça voltar. Talvez a máscara comece a cair, mas não será tarde demais?
COMBATE AO CRIME.

O primeiro fim de semana da Lei de Tolerância Zero ao Álcool foi uma mostra das maravilhas que nos proporcionam o Governo, o Congresso e nossas polícias. Mais de 180 marginais de altíssima periculosidade foram presos, por terem tomado dois ou três copos de cerveja, transformando-se assim em elementos perigosíssimos para a sociedade. Imagino o orgulho dos policiais que prenderam esses marginais, muitos com famílias no carro ( cúmplices desses bandidos ).

Enquanto automóveis eram parados nas estradas, dezenas de caminhões e ônibus sem freio, com problemas de balanceamento, e sem a menor condição de tráfego, passavam impunemente pelos postos de vigilância. Mas a polícia rodoviária não tem que se preocupar com isso, pois o problema são os seguidores de Zeca Pagodinho. Os traficantes dos morros e favelas, os receptadores de automóveis roubados, os policiais corruptos que liberam veículos sem vistoria ou vendem carteiras de habilitação, todos esses não traduzem perigo à sociedade. Pelo menos não se comparados aos marginais que se atrevem a beber cerveja em festas de aniversário ou alguns copos de chope nas noites de sábado

Deixando a ironia de lado, somente um Congresso como esse poderia aprovar uma modificação no Código Nacional de Trânsito como essa. Não sou e jamais serei defensor das barbáries cometidas por motoristas alcoolizados, mas prender um pai de família por ter traços de álcool no sangue, mesmo que provocados por um copo de cerveja, é estupidez. Os acidentes provocados por veículos sem condições de segurança superam aqueles provocados pela bebida, mas as estatísticas não expressam esse número, pois são amostras da corrupção policial não assumida. As carteiras de habilitação vendidas à pessoas despreparadas constituem perigo muito maior do o álcool. É preciso penalizar os motoristas alcoolizados que infringem a lei mas é preciso bom senso.

Moralizar o trânsito implica em, necessariamente, combater a corrupção nos Detrans de todo o país, combater as máfias de auto-escolas que vendem carteiras, a roubalheira na manutenção de estradas, fazer cumprir a obrigatoriedade de vistoria em veículos usados, aumentar a exigência de itens de segurança em veículos novos e não considerar que prender algumas pessoas que beberam em festas de crianças são os responsáveis por acidentes de trânsito decorrentes da omissão do Estado.

Enquanto isso, vamos embarcar na hipocrisia. Outro exemplo é a “nova” CPMF. Por que não criar uma CIDE sobre bebidas alcoólicas, com destinação integral para a saúde? Existem garrafas plásticas de cachaça vendidas em supermercados à R$ 0,50. Torna-las mais caras, destinando verba para o serviço público de saúde seria uma política correta. Mas jamais poderíamos esperar medidas corretas de um Congresso formado por 300 amigos do Lula.